Projetar uma residência de idosos não é uma tarefa fácil, ainda mais em meios mais pequenos e tradicionais. Neste caso que aqui trazemos, localizado em Ponte de Sôr (no Norte de Portugal), o arquiteto Nuno Piedade Alexandre, conseguiu um resultado que atenua vários dos aspetos mais traiçoeiros deste tipo de estruturas arquitetónicas.
É sempre difícil equilibrar estética com função, mais ainda quando existem também aspetos psicológicos associados, como é o caso dos lares de terceira idade/residências de idosos. O sentimento de abandono, de falta de pertença ou de falta de privacidade são alguns dos aspetos que esta arquitetura resolve de forma brilhante, dando assim um maior conforto aos seus ocupantes.
Na realidade com a desconstrução do plano da fachada principal em várias aberturas, todas elas com a sua orientação específica e sem que nenhuma delas se cruze no eixo do olhar, esta obra ganha uma sensibilidade especial na sua usabilidade. É que mais do que a questão estética ou funcional, a personalização de cada espaço de habitação sénior cria uma individualização do espaço e do ambiente, o que ajuda à integração dos seus habitantes nesta nova arquitetura.
Por outro lado, a grande transparência entre o interior e o exterior atenua também a sensação de isolamento que os seus habitantes porventura possam vir a sentir ao irem para lá morar. Mas se a arquitetura exterior tem a sensibilidade necessária para dar um conforto psicológico aos habitantes deste espaço, nos interiores é a serenidade e a personalização dos quartos que faz deste lar um equipamento especial. Cada utente consegue criar no seu quarto um ambiente próprio, sem desvirtuar a funcionalidade dos mesmos, mas personalizando-os ao seu gosto e estilo.
Este cuidado com esta personalização é possível, por uma razão muito específica: todas as estruturas técnicas que normalmente acompanham este tipo de equipamentos sociais, neste caso situam-se num edifício antigo pré existente (cuja ligação é feita por uma galeria de ligação), deixando para esta construção nova apenas uma nova ala de quartos e zona de convívio (no piso 0), facilitando assim toda a arquitetura e toda a sua funcionalidade. Aqui a preocupação foi focada no conforto físico e psicológico dos seus utentes.
É uma obra de uma qualidade rara: ser bela, funcional e sensível ... e é assim que todas deveriam de ser!
Fotos: João Morgado