Em semana de Fashion Week todas as cidades acabam por se transformar um pouco, e Lisboa não é excepção. Pessoas que não se vêem na correria do dia a dia, voltamos a rever, a concentração de gente bonita nos locais dos desfiles é superior ao normal e tudo ganha uma magia especial.
Nesta edição da ModaLisboa, o maior evento de moda da capital, voltou a trazer este ambiente para a cidade. Tendo a sua sede no Pavilhão Carlos Lopes, esta edição espalhou-se um pouco pela cidade e como tal essa mesma magia também.
O segundo dia de desfiles da ModaLisboa com uma apresentação num local bem diferente: o The Mustik Warehouse. Este armazém, localizado junto ao Museu Nacional de Arte Antiga, foi o palco da apresentação de Constança Entrudo e foi aqui que a primeira coleção Lab do dia foi apresentada. Com vista de Rio, iluminação natural e uma sala industrial foi o palco da coleção que deu cor ao look Punk e que cruzou os idos anos 1970s com o Youtube contemporâneo.
Constança Entrudo
Mas o Lab continuou já na passerelle do Pavilhão Carlos Lopes, com a apresentação de João Magalhães, que surpreendeu todos com a mistura de real people com o seu universo psicadélico urbano contemporâneo. Foi uma apresentação descontraída e muito Pop, tal como é hábito deste designer. A senhora que se seguiu foi a mais clássica de todos os criadores da plataforma Lab - Inês Oliveira e a sua marca Imauve. Com um desfile esta criadora propôs uma desaceleração de ritmo, puxando clássicos revisitados para a passerelle, numa combinação nova, mas muito serena e suave. Simples, vestível e inteligente, esta marca tem crescido de edição para edição, fazendo o seu caminho claro e trazendo ideias interessantes para o estilo nacional.
João Magalhães
Imauve
Mas foi com David Ferreira e o seu estilo irreverente e espetacular que o Lab deste dia encerrou. O tema são as betas que se destacam do seu grupo criando uma nova linguagem estética assente numa nova tribo urbana que mistura influências mundanas e étnicas, num equilíbrio às vezes conseguido, outras vezes absolutamente extravagante e divertido. A abertura do desfile foi feita pela sua musa e star stylist portuguesa, Mónica Lafayette, e deu logo o mote para a coleção bem conseguida e estilisticamente e conceptualmente bem criada que se seguiu, num jogo de cores e volumes entre fitted e oversized, em tons de verde, dourado, preto, branco e rosas e utilizando materiais de organza e chiffon de seda, lãs, cetim de metal, pvc e pelo. Sim David Ferreira voltou e merecer um aplauso da assistência que gostou de mais esta coleção desafiadora mas bem conseguida.
David Ferreira
E o que se seguiu foi talvez um dos momentos do dia: o regresso de Carlos Gil à passerelle da ModaLisboa. Este exímio criador trouxe-nos uma coleção mais madura, mais artistica, mais arquitectónica e absolutamente perfeita do ponto de vista técnico e de qualidade de materiais. Com referências na arte de Kandinsky ou de Mondrian, o criador transportou esse universo criativo e de cromatismo para uma linguagem vestível e de estilo. Carlos Gil, pela liberdade artística, criou peças livres e perfeitas que expressam sentimentos e têm uma ideia de estilo que faz da mulher um objeto de arte único e precioso. Este não foi apenas um dos momentos altos do dia por causa do seu regresso à ModaLisboa, mas foi também uma das melhores coleções desta estação, até ao momento.
E seguiu-se outro dos momentos mais aguardados do dia: o desfile de Awaytomars. Esta plataforma criativa encabeçada pelo luso brasileiro Afredo Horóbio apresentou mais uma vez uma coleção absolutamente única e merecedora de toda a expectativa que estava criada. Com o foco da crítica à fast fashion, ao consumismo na moda, com um apelo à reutilização das peças, redesign das mesmas ou renovação de estilos, a coleção focou temas tão diversos como o Brexit, o Fairplay no Desporto ou a Reciclagem e as energias limpas. Foi um desfile de peças absolutamente irrepreensíveis, que só com a mestria e o génio da plataforma criativa Awaytomars, conseguiu ganhar forma e uma imagem una, brilhante e genial. O aplauso foi total e a aceitação consensual!
Carlos Gil
Awaytomars
Mas a noite já tinha caído e a moda não parou no Pavilhão Carlos Lopes, com a apresentação sempre aguardada de Lidja Kolovrat, e foi com surpresa que natureza e cowboys passaram a fazer sentido numa desconstrução interessante e desafiante que esta criadora trouxe para a passerelle. Quer no feminino, quer no masculino, a coleção desfilou um conjunto de peças bastante elaboradas, mas absolutamente bem conseguidas, que arriscaram uma nova estética e uma nova forma, e que fizeram evoluir ainda um pouco mais essa linguagem artística e intelectual que Kolovrat domina tão bem.
Kolovrat
Se tudo o que é bom acaba, também aqui aconteceu hoje ... mas desta feita terminou em muito bom, com a apresentação de Luís Carvalho. As mulheres ganham um novo glamour, os homens não lhes ficam atrás e o título de criador fetiche do novo estilo "demi couture" nacional definitivamente consolidou-se. Luís Carvalho cresceu, amadureceu e apresentou uma coleção completa, impecavelmente bem feita e estilisticamente perfeita. A imagem estava bem editada, o styling era exacto e a proposta da coleção absolutamente espetacular e nova, sem deixar o seu ADN criativo, mas evoluindo, reinventando-se e explorando novos territórios, novos formatos, novas linguagens e sempre com uma qualidade inquestionável. Mais difícil ainda foi o equilíbrio entre o homem e a mulher, que desta vez foi absolutamente certeiro.
Assim terminou em grande estilo este segundo dia de ModaLisboa ... e com as imagens do dia, termina também este nosso report. Hoje há mais e nós vamos estar lá, claro!
Luis Carvalho
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