NOS TRILHOS DE VERA CRUZ | EM DIRETO - DIA 2


JÁ CHEGÁMOS A SÃO PAULO ... MAS FOI DIFÍCIL

Depois de uma noite tranquila a bordo de um dos novíssimos A330 da TAP, chegamos ao aeroporto de Guarulhos de São Paulo.

O primeiro impacto da nossa chegada é a fronteira: uma sala enorme, com filas ainda maiores, e apenas três ou quatro guardas de policia a fazer o controlo de passaportes. E claro, quando mudou o turno, alguns não chegaram a horas, mas os que estavam a trabalhar sairam na hora certa.

O caos ficou instalado com milhares de pessoas a chegar e todas a serem controladas individualmente, por muito poucos guardas (devido à hora matinal, explicavam os brasileiros da fila). Foram duas horas para sair do aeroporto ... e ainda não tinha acabado a nossa aventura para rumar a São Paulo.

A próxima aventura foi uma que nos custou mais uma meia hora (pelo menos): chamar um Uber. Se estão a pensar que o problema era não haver carros, desenganem-se: foi mesmo haver muita gente a querer apanhar tanto uber e os carros irem buscar os passageiros das chegadas no piso das partidas e vice versa. Ora como um piso e outro têm estradas sobrepostas, a confusão era" Mas nós estamos aqui", "pois eu também" ... mas na realidade, cada um estava no seu piso do viaduto, e os motoristas não sabiam dizer que estavam nas partidas e não nas chegadas. Ora primeiro que nós, acabados de chegar nos apercebessemos dissso, demorou algum tempo e vários Ubers cancelados pelos próprios motoristas, pois achavam que estávamos a gozar com eles. Tudo se resolveu com um motorista que perguntou se era para nos apanhar nas partidas ou nas chegadas. Aí encontrámos o nosso carro e rumámos ao nosso hotel em São Paulo.

Custou, mas foi: chegámos a São Paulo!


A URBAN GUEST HOUSE DE PINHEIROS

Para a nossa estadia nesta que é a maior metrópole da américa do sul, escolhemos uma típica casa do muito trendy bairro de Pinheiros.

Este bairro fica muito perto do centro histórico da cidade e é composto por um conjunto de pequenas casas e pequenos edifícios habitacionais, tradicionalmente casas familiares dos a primeira metade do século XX, que hoje estão transformadas em casas da classe média, lojas e pequenos escritórios.

É numa destas casas, transformada em Guest House (com apenas 10 quartos) que nós vamos ficar alojados em São Paulo: a Urban Guest House de Pinheiros.

Esta casa está muito bem recuperada, com uma decoraçao mderna, mas recheada de elementos vintage, com todo o charme de uma pequena casa burguesa familiar, mas com todas as comodidades de um alojamento de design e muito personalizado.

Este é o nosso primeiro contacto com a cidade, e é bastante positivo!


O PRIMEIRO CAFÉ DA MANHÃ NO BRASIL FOI NO GIRONDINO

O pequeno-almoço no Brasil (ou café da manhã, como chamam por aqui) é uma religião. Assim sendo, decidimos que o nosso primeiro tinha de ser especial e, depois de simpaticamente nos deixarem entrar bem antes da hora do check in oficial (que era às 15h e nós entrámos às 8h da manhã) no nosso quarto, tomarmos um duche, e mudarmos de roupa, rumamos a um dos cafés mais tradicionais da cidade de São Paulo: o Girondino.

Aqui, empregados impecavelmente fardados, atendem-nos com uma simpatia invulgar, num ritmo, apesar de tudo relaxado, e com uma bonomia que nos relembra onde estamos. No Brasil o serviço é sempre mais tranquilo e calmo, mas invariavelmente simpático. Mesmo no centro de São Paulo, cidade cosmopolita e onde a alta finança está instalada, tudo é feito com simpatia e com um ritmo muito especial.

Assim sendo, relaxamos e pedimos um café da manhã muito brasileiro: pão de queijo (divinal), um misto quente (que não é mais do que uma tosta mista) e sucos, acabando com um brigadeiro.

Foi um café da manhã digno de ser o primeiro, e marcar um alto standard para o resto da viagem, com tudo o que o Brasil tem de bom ... e com a qualidade de um café histórico da cidade paulista.


... E DEPOIS FOMOS AO MERCADÃO

A cidade de São Paulo, nesta quadra da páscoa está meio vazia, mas no centro, há sempre gente. Ainda para mais no fim-de-semana, pois é dia de Mercadão.

Assim seguimos as muitas pessoas que se movimentam todas numa direção e entre ruas e vielas, chegamos ao muito concorrido Mercado Municipal de São Paulo: o Mercadão.

Aqui a babilónia instala-se: pessoas de todas as cores e estilos movimentam-se em todas as direções, frutas absolutamente enebriantes perfumam o ar de um aroma único e indescritivel, um ruidoso mezanino de restaurantes serve os pratos tradicionais feitos com os produtos que se vendem em baixo, e carnes, picles, fumados, queijos, peixes, mariscos ou especiarias compõem um mosaico colorido e sensorial que nos assalta durante toda a visita.

Este é um local absolutamente indescritível e que nos causa uma primeira grande impressão: são paulo tem tudo e é o ponto de encontro de tudo o que é o brasil ... e no Mercadão, vende-se todos os ingredientes de todo o Brasil.




O CENTRO, A HISTÓRIA E A MODERNIDADE

Ainda embriagados por toda a loucura de cores aromas e sons que caracterizam o Mercadão, saímos de novo para as ruas e passeamos pelo centro de São Paulo.

Aqui percebemos que esta é uma zona em plena transformação. Existem já vários prédios recuperados, mas outros estão bastante degradados. É aqui que a cidade se encontra, com os pobres e os ricos num mesmo território mas sem conviverem. Mas o ambiente que se vive não é pesado ou hostil, é apenas frenético e surpreendente.

As cores dos prédios e das roupas das pessoas, o verde das árvores e dos jardins e canteiros, o céu azul e o relevo super acidentado desta cidade, fazem desta paisagem de torres de betão uma verdadeira selva. Os nossos olhos tão depressa apreciam monumentos históricos como o Páteo do Colégio, a Sé Catedral, o Mosteiro de São Bento ou o Teatro Municipal, como também se deleita com arte urbana ou torres de betão como os incríveis edifícios Copan (de Oscar Niemeyer) ou o edifício Eifel.

Esta é uma cidade de contrastes, vibrante, com uma luz e uma cor cativantes e que surpreende por essa energia que toda esta mistura transmite.

Sim São Paulo conquistou-nos por esta riqueza de diversidade e de contrastes exacerbados e entusiasmantes.


O BAR DA DONA ONÇA

Justamente no centro e em baixo de um desses edifícios icónicos do centro da cidade (o edifício Copan) está um dos locais mais in de toda a cidade: o Bar da Dona Onça.

Foi exactamente aqui que escolhemos almoçar ... mas mal sabíamos nós que outra surpresa nos aguardava: uma espera de mais de uma hora para comer. Aqui em São Paulo faz-se fila para tudo e tudo leva tempo a acontecer. Nos bons restaurantes, nos bons bares, as filas são algo absolutamente normal, e esperar faz parte do sistema. Do mais famoso ao mais popular, todos os restaurantes têm um sistema de inscrição do nome quando se chega e um SMS enviado quando a mesa está pronta. Aqui é assim e só depois é que se entra no local.

Esperámos, desesperámos e exasperámos, mas finalmente entrámos. E quando se entra o local está cheio, frenético de actividade, mas tudo funciona sobre rodas. A espera é de facto algo longo e a que não estamos habituados, mas quando acaba, tudo funciona na perfeição.

Então para que conste comemos um conjunto de petiscos muito brasileiros: coxinhas de carne, croquete de carne de panela (absolutamente incríveis), bolinhos de espinafres, pastéis de carne, chipes de jiló (muito interessantes) e para terminar foi um cheesecake de goiaba (também ele muito bom). A espera valeu a pena, pois foi longa mas o serviço foi inpecável, a comida boa, o ambiente sofisticado e o almoço foi um bom começo para a gastronomia brasileira.



O ARTURITO

Depois de almoço (que acabou já eram quase 16:30), decidimos ir descansar ao hotel e dormir uma pequena sesta, antes de nos começarmos a preparar para encontrar um amigo e jantarmos no primeiro templo gastronómico da cidade: o Arturito.

Este restaurante tem na sua cozinha uma das maiores maestrinas da gastronomia brasileira contemporânea: Paola Carosella. Foi aqui que nos encontrámos com os nossos amigos e que começámos a perceber a profundidade da cozinha contemporânea brasileira.

A herança de sabores tradicionais, no Arturito, está misturada com uma sofisticação da cozinha internacional, tendo uma grande influência italiana. É assim que nos deliciámos com um robalo fresquíssimo e muito bem confeccionado, umas lulas com linguiça artesanal de porco montau acompanhadas couscous libanês maravilhosas e uma beringela recheada com lentilhas irrepreensível. Tudo acompanhado com um vinho chileno mineral e muito bem aconselhado pelo escansão da casa.

Mas a grande surpresa estava guardada para o final: as sobremesas. Se o tiramisú estava excepcional, já o gelado de doce de leite era simplesmente perfeito, mas foi a panacota com um xarope de jabuticaba que nos conquistou a todos e fez com que todos concordássemos: era o prato da noite e entrou diretamente para a galeria dos sabores e inesquecíveis da nossa vida!


DEPOIS DA SINFONIA DE SABORES, VEIO O SAMBA DE RODA

Mas se o jantar foi uma autêntica sinfonia de sabores, cuja mestria de Paola Carosella, a elevou a um nível absolutamente surpreendente (e com um ambiente incrível, um espaço lindíssimo e um preço verdadeiramente correcto), o que se seguiu foi ainda mais incrível.

Guiados pelo nosso amigo Marcelo Andrade, cruzámos ruas e (depois de uma paragem rápida em sua casa para tomarmos um café delicioso e provar uma cachaça produzida pela família dele) acabámos em dois locais que não esqueceremos facilmente: o Pau Brasil e o Ó do Borogodó.

Estes dois bares, situados em Vila Madalena, são dois pequenos locais, que a qualquer desconhecedor passam absolutamente despercebidos, mas que dentro encerram duas maravilhas: duas rodas de samba, populares, alimentadas por músicos locais, que fazem destes bares muito especiais.

Se no Pau Brasil estavam cantores e músicos que se juntavam organicamente perante os nossos olhos, porque lhes apetecia tocar ou cantar, e nos encantaram com uma sessão infindável de um samba intimista e absulitamente mágico, já no Ó do Borogodó, estava uma verdadeira roda de samba, toda ela formada por homens de várias idades, que tocaram e cantaram um samba mais do sul do brasil, misturando referências do forró com ritmos de samba, num resultado hipnotizante e que não deixou ninguem parado. Todos demos um sambinha no pé, pois foi absolutamente impossível ficar parado com tal energia e tais ritmos.

Aqui o ambiente foi autêntico e único, inesquecível de tão forte e especial que foi. Tudo foi perfeito e São Paulo que já nos tinha conquistado, passou a encantar. Foi o final de noite perfeito e que nos preparou para o dia seguinte ... mas disso falamos amanhã!

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