O DESPERTAR DE UMA FAZENDA
A vida numa fazenda começa com o nascer do Sol. Assim foi com poucas horas de sono que acordámos no Pantanal.
O sol tinha acabado de se levantar, ainda a temperatura estava amena (uns 30º C) e os pássaros davam os primeiros sons da manhã, quando deixámos o nosso imenso quarto e nos dirigimos para um telheiro para tomar o primeiro "café da manhã" pantaneiro.
Pão de frango, sucos de fruta e pão de queijo, são apenas algumas das iguarias que se podem degustar logo às primeiras horas da manhã. O despertar na Fazenda é algo tranquilo, rodeado por uma natureza absolutamente luxuriante e que conta com uma arara de estimação da fazenda.
Tranquilo e absolutamente sereno foi o sentimento dos nossos primeiros momentos no Pantanal.
A SUBIDA DO RIO
Logo a seguir ao pequeno almoço, o nosso guia, o Tadeu, apresentou-se e levou-nos de pick up para o nosso primeiro programa do dia: subir o rio em canoa.
Após um curto passeio chegamos ao sitio dos caseiros onde estão já as canoas à nossa espera. Coletes vestidos e saltamos lá para dentro ... e começamos a remar rui acima. A sensação de tranquilidade é então maior do que nunca. À medida que nos afastamos do sítio, a natureza começa a ser mais luxuriante, mais presente e a vida selvagem começa a ser ainda mais presente.
Milhares de pássaros, de dezenas de espécies são a presença mais constante, mas claro que não faltam os macacos e os jacarés. Mas é o silêncio absoluto que se apodera do ambiente que é mais impressionante. O calor começa a apertar, a humidade a subir e ninguém fala. O peso da paisagem, das cores de verde e azul da vegetação e do céu e as cores vivas dos milhares de pássaros apoderam-se dos nossos sentidos.
É uma sensação única e muito impressionante a que se vive na subida deste rio da Fazenda Araras. Ficamos absolutamente rendidos à natureza poderosa do Pantanal.
A PESCARIA EM CASA DA SANDRA
Depois de mais de duas horas a subir e a descer o rio, voltamos ao ponto de partida e é aqui que conhecemos a dona da casa grande: a Sandra.
É ela que nos dá as canas (verdadeiramente canas naturais) com que passaremos a próxima hora. Numa ponte de madeira próxima instalamo-nos e com as canas em riste e carne de búfalo no anzol, esperamos tempos infindáveis por que um peixe morda o isco. E ao fim de mais de uma hora, é isso mesmo que acontece: um pequeno peixe dragão morde o anzol e toda a serenidade e calma que reinaram até aí se transformam em excitação e alegria.
O peixe é desprendido do anzol e devolvido ao rio ... e enquanto os restantes continuam a tentar a sua sorte, eu volto em direção à casa e entro na cozinha da Sandra, onde ela prepara o almoço dos Peões: um entrecosto de búfalo feito em forno de lenha. Começo a falar com ela e ela explica que esse forno é muito potente, por isso é que a carne fica muito tostada por fora e tenra e suculenta por dentro. Peço para provar e prontamente pega numa faca e dá-me uma lasca dessa carne.
Tenra, rica em sabor e meio salgada (usa sal refinado, explica ela), mas muito suculenta e ainda melhor quando abre uma lima e espreme o sumo para cima do segundo pedaço que me dá a provar. Não podia haver melhor momento pré almoço ... foi tudo absolutamente perfeito!
O ALMOÇO E A HORA DA SESTA
Depois de ter provado o entrecosto de búfalo (criação da fazenda) voltamos todos para a pousada da fazenda e temos já tudo preparado para um almoço com iguarias da região.
Pergunto aos empregados qual escolheriam, e indicam-me carne de vaca estufada com banana pão acompanhado com aboborinha assada e arroz. Tudo regado com uma cerveja de cuiabá aromatizada com coentros. É absolutamente perfeito e é o início da tarde.
Mas antes de qualquer programa, porque o calor é muito, regressamos aos nossos quartos e temos tempo para uma sesta. Há quem prefira as redes espalhadas pela pousada ... enfim, é tempo de relaxar e deixar o tempo passar a um ritmo próprio e lanzeiro. É tempo de descansar antes do programa do final de tarde.
A CAMINHADA PELO MEIO DO PANTANAL
Acordados, tomamos um café servido no meio das árvores, calçamos umas borracha e partimos a pé para o meio do Pantanal.
Esta caminhada, para quem gosta de mergulhar no meio da selva pantaneira, é perfeita: os trilhos são isso mesmo, pequenos caminhos no meio de uma vegetação frondosa e que tudo invade e muda, atravessamos zonas de água rasteira e caminhamos pelo meio do mato. Ao longo do caminho conseguimos ver alguns animais, como capivaras, veados, javalis, macacos, tatus, muitos pássaros, uma rara tartaruga pantaneira e claro muito gado e cavalos pantaneiros.
Mas são as libelinhas, borboletas, frutos e ninhos de térmitas (gigantes por sinal) que nos acompanham de forma mais constante. São umas horas a andar pelo meio do mato, que culminam na subida a uma torre de observação, que nos leva até acima da copa das árvores e nos permite ter uma visão 360º sobre a mata frondosa que nos rodeia.
No final está guardado o melhor momento: no retorno para a fazenda, passamos por uma zona de pântano larga que nos permite ver um pôr do Sol incrível e absolutamente deslumbrante: é o ponto alto do dia, unanimente classificado como um momento poético e inesquecível.
A FOCAGEM NOCTURNA
Depois de voltar para fazenda, segue-se mais um momento de pausa, antes de um jantar com pratos da região. O nosso destaque vai para o peixe frito pescado no rio que subimos, e para a vaca estufada ambos acompanhados com um delicioso jiló assado. A rematar uma mousse de lima e doce de leite, absolutamente deliciosa.
Mas logo a seguir ao jantar subimos num camião e vamos fazer a última actividade do dia: uma focagem nocturna para ver os animais nocturnos. Aqui o passeio é mais misterioso e não fora o olhar de "jaguar" do nosso guia Tadeu e não tínhamos visto um Osselote à caça ou uma Tarantula gigante. Foi um passeio pautado pelos barulhos nocturnos do Pantanal e encerrou o dia com a emoção de ver estes dois raros animais. Assim terminou o nosso dia de descoberta do Pantanal, uma das regiões mais virgens de todo o Brasil e que, nem de propósito é feita no dia em que se comemora a chegada de Pedro Álvares de Cabral ao Brasil: a 22 de Abril de 1500 Pedro Alvares de Cabral descobre oficialmente o Brasil, e a 22 de Abril de 2019, nós descobrimos os Trilhos Pantaneiros!
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