NOS TRILHOS DE VERA CRUZ | EM DIRETO - DIA 9


SALVE SALVADOR

Foi com alguma nostalgia que acordámos pela primeira vez na "nossa casa colonial" de Salvador. Como sempre o pequeno almoço no Hotel Villa Vahia foi uma coreografia com um tempo muito preciso e eficiente e foi assim que ainda os primeiros raios de sol raiavam partimos da capital da Bahia.

Esta cidade deixou-nos uma sensação de contradição. Salvador foi capaz de momentos absolutamente únicos e mágicos (como os passados na Casa de Tereza ou na Casa de Jorge Amado, e também momentos absolutamente contrastantes de sofisticação e qualidade, como foi o caso da visita ao popular e exótico mercado de São Joaquim ou o cenário de favela que vimos das janelas dos Ubers que tomámos durante estes dias.

É uma cidade que vive entre um passado glorioso, um presente desigual e (pela quantidade de obras que a cidade tem) espera-se um futuro mais equilibrado.

Um desses exemplos é esta exuberante estrada de acesso ao aeroporto, espectacularmente ladeada por esta foresta cerrada de bambus, que formam dois túneis naturais por onde passamos quando chegamos e quando saímos do aeroporto. É como se nos transportássemos da nossa realidade para outra paralela ... que é a gentil, interessante e paradigmática cidade de Salvador.



DOIS VOOS E UMA COMPANHIA DE AVIAÇÃO FALIDA

Depois de algum tempo no aeroporto de Salvador damo-nos conta que algo estranho se passa com os voos da companhia de aviação Avianca.

Estamos de partida de Salvador para Recife, onde fazemos uma curta pausa de duas horas (e aqui no Brasil, quando a escala é para trocar de voos com companhias diferentes, tem de se esperar a mala nas chegadas, e voltar a fazer o check in da mala na nova companhia, o que faz com que tudo seja verdadeiramente menos prático), e perguntamos a um funcionário da companhia aérea Azul (que nos vai transportar até ao Recife) o que se passa com os voos da Avianca. É aqui que recebemos a estrondosa novidade que este gigante da aviação no Brasil ficou com apenas 9 dos 41 aviões que tinha, pois, por ordem judicial, todos os restantes aviões ficaram penhorados por dívidas da companhia. Era por esta razão que a companhia estava a cancelar quase todas as suas rotas, deixando apenas os voos entre os quatro maiores aeroportos brasileiros (São Paulo/Guarulhos, Rio de Janeiro/Galeão, Brasília e Salvador) a operar com esses 9 aviões que restaram.

O reflexo imediato foi ver se tínhamos na nossa viagem algum voo operado por esta companhia ... e tínhamos. Tínhamos é o termo correto, pois fomos ao site da companhia (ainda na sala de embarque de Salvador) e descobrimos uma lista dos voos que iriam ser cancelados na próxima semana, e o nosso constava da lista. Foi então que nos pusemos a trabalhar em arranjar alternativas, enquanto estabelecemos contacto com o nosso seguro de viagem da Nomads (aquele que recomendámos nos últimos preparativos e que nestas situações não falha) para saber como proceder nesta situação. Arranjar uma solução demorou toda a nossa escala no Recife: enquanto uns faziam o check in das malas, outro estava no balcão da Avianca (junto a todas as câmaras de televisão que estavam no local, a fazerem entrevistas aos passageiros que esperavam uma solução da companhia) a pedir cartas de confirmação de cancelamento - exigidas pelo seguro para poderem fazer o estorno dos custos adicionais - que nos informaram que só as dariam no próprio dia do voo. Mas não só, pois só conseguimos finalmente arranjar voos alternativos (com a excelente Azul) nas duas primeiras horas depois de chegarmos a Fernando de Noronha, para onde voámos a seguir com a GOL.

Mas se a emoção já estava forte por causa da situação da Avianca e dos nossos voos, mais forte ficou quando chegámos para fazer o check in do voo Recife/Fernando de Noronha com a GOL e percebemos o caos instalado nos balcões de check in. É que devido às chuvas fortes da véspera nenhum voo da GOL tinha conseguido aterrar em Fernando de Noronha, pelo que todos os passageiros do voo do dia anterior estavam à espera de um lugar de última hora para poderem embarcar no voo desta tarde. O caos foi tanto que nem sentados no avião no nosso lugar ficámos sossegados, quando vimos dois passageiros serem levantados da fila da frente da nossa e conduzidos fora do avião (com as suas bagagens consequentemente retiradas) porque tinham emitido mais cartões de embarque do que lugares do avião.

Esta foi uma tarde de emoções fortes provocadas por duas companhias aéreas brasileiras: a Avianca que praticamente faliu e cancelou 80% dos voos no Brasil (e por consequência um dos nossos); e a GOL que depois do desastre no primeiro voo entre São Paulo e Cuiabá (que nos fez repetir o check in 5 vezes o que provocou a nossa perda do voo, com a consequente penalização), voltou a surpreender pela negativa fazendo check in a mais passageiros do que lugares no avião, criando assim situações que nunca tínhamos presenciado em tantos anos de viagens por todo o mundo!

E foi desta forma, com um avião a abarrotar e ansioso sobre a possibilidade de aterrar em Fernando de Noronha ou não (pois no dia anterior o voo da GOL tinha também levantado voo, tinha ido até à ilha, mas não tinha conseguido aterrar e tinha dado meia volta e voltado para o Recife), que chegamos à ilha de Fernando de Noronha.




A CHEGADA ATRIBULADA A FERNANDO NORONHA E O PARAÍSO GASTRONÓMICO DO XICA DA SILVA

Depois de aterrarmos num aeroporto que se resume a quatro salas (uma para pagamento da taxa ecológica obrigatória na entrada em Fernando, outra para recolher as malas, outra onde se faz a segurança e o embarque dos voos de partida e uma última onde estão os check in, os balcões das companhias e as poucas lojas do aeroporto), temos o nosso transfer à espera.

Este transfer foi organizado pela nossa pousada - a Alamoa - com um operador de excursões local - a Atalaia Tours. Metem-nos num autocarro com vários dos passageiros dos dois voos que chegam ao mesmo tempo, e explicam-nos que sabem que muitos de nós não temos excursões e que eles são o único operador de turismo da ilha. Em seguida explicam que quem não quiser pode não ir ver uma apresentação de um vídeo apenas 4 minutos e continuar no autocarro, mas quem for fica a saber mais sobre a ilha. Maior é o logro quando nos dizem que como fizeram os nossos transfers são responsáveis por nós durante toda a estadia na ilha e nos distribuem em questionário clínico para cada um de nós preencher (que é obrigatório) e levam-nos diretamente para o seu local das apresentações para o tal vídeo de 4 minutos.

Já incomodados com a situação, cansados de termos acordado perto das 6 da manhã em Salvador, stressados com situação do voo da Avianca (que à altura, ainda não estava resolvido), lá assistimos incomodados ao vídeo de 4 minutos, mas o que se seguiu foi uma autêntica surpresa: o nosso autocarro tinha desaparecido, com as nossas bagagens a bordo! Foi-nos explicado que afinal quem não fosse assistir ao vídeo, poderia ter ficado no autocarro, e então teria seguido para a pousada, e quem saiu do autocarro, agora tinha de ficar à espera que todos se despachassem com compras, dúvidas, palestras sobre os mais variados temas e excursões e só no final de tudo o autocarro iria levar todos, à vez, cada um à sua pousada. Foi a gota de água e foram então duas horas de espera para conseguirmos chegar à nossa pousada que estava a apenas 4 minutos de distância. Esta foi a recepção que tivemos em Fernando de Noronha e infelizmente foram de stress e indignação os primeiros momentos que vivemos neste autêntico paraíso na terra.

Mas lá chegámos à nossa Pousada Alamoa, onde nos pusemos imediatamente a resolver a alternativa ao voo da Avianca e só assim relaxámos o suficiente para irmos até ao mais famoso restaurante da ilha: o Xica da Silva.

Aqui tudo se tornou no que devia de ser: este restaurante, o mais afamado da ilha, é um verdadeiro paraíso de qualidade, bom gosto, coolness, boas caipirinhas e boa gastronomia. Foi aqui que decidimos passar a nossa primeira noite em Fernando de Noronha, a relaxar de todo o stress vivido, com uma caipirinha na frente, camarões panados com farinha de jejelim e cheviche de entrada e uma abóbora recheada com camarões e queijo gratinado acompanhada com arroz crocante e amêndoa tostada e batata palha como prato principal ... tudo absolutamente divinal, delicioso e confeccionado na perfeição.

Depois de todas as peripécias do dia, de todo o stress, este foi o final de dia perfeito, que finalmente nos fez perceber que estávamos num dos mais afamados paraísos na terra: a idílica ilha de Fernando de Noronha!

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