Acordámos em pleno centro de Marselha, num hotel moderno, confortável e muito eficiente. O funcionamento destes Ibis Euromed é verdadeiramente bom: tem quartos espaçosos e bem equipados (equivalentes a muitos 4 estrelas), o pequeno almoço é completo e bem servido, e o serviço de recepção e de restauração é atencioso e muito disponível.
Mais ainda, a localização deste hotel é perfeita, pois está a dois passos da Catedral e do muito novo MuCEM – Musée des civilisations de l'Europe et de la Méditerranée e a três passos do Porto Velho. Ora com esta localização decidimos começar a manhã com um passeio a pé por esta zona da cidade, onde vimos o excelente trabalho de recuperação desta zona do porto novo, bem como as excepcionais lojas que por aqui estão a surgir. Claro ... não resistimos a comprar umas camisolas marselhesas (as tão afamadas camisolas de riscas azúis e brancas), os sabonetes artesanais com base de azeite e queijos ... muitos e bons (pois ainda não tínhamos comprado para levar). Foi assim que começámos a nossa manhã, entre a Catedral e Lojas, entre o MuCEM (que não conseguimos visitar, por causa do tempo que perdemos nas compras) e o porto velho.
Depois de voltarmos ao hotel para deixarmos as compras, pegamos no carro e atravessámos a cidade para ir visitar um dos edifícios mais importantes, e mais esquecidos, da cidade de Marselha: a Unité d'Habitation. Desenhada pelo genial mestre do modernismo europeu Le Corbusier, este edifício habitacional de 1947 (projetado em colaboração com o arquiteto e artista português Nadir Afonso), propõe uma revolução na habitação à época. É que a proposta desta obra é criar uma cidade vertical, com habitação, serviços e infra-estruturas comuns a todos os habitantes deste prédio de apartamentos. Por outro lado, é com este projeto, que Le Corbusier atinge a maturidade do seu pensamento sobre o acto de habitar contemporâneo.
Mas se tudo isto é teoria, na realidade o edifício que visitamos, é uma verdadeira obra prima de arquitetura modernista e do betão. É que para onde quer que se olhe todas as perspetivas, todos os detalhes, todos os materiais, todas as formas, tudo está estudado à exaustão. A visita a esta obra de arquitetura é verdadeira lição viva e prática de como a arquitetura modernista tem uma estética e um programa funcional e um pensamento conceptual revolucionário e novo para a época. É uma visita demorada, que nos leva do rés-do-chão aos terraços da cobertura, e nos faz percorrer espaços tão bem desenhados, e ainda melhor construídos, que é um deleite para os olhos e para a alma percorrer esta obra de arquitetura.
Ora depois do início da manhã no centro de Marselha, e o final desta na Unité d'Habitation, estava na hora de sairmos da cidade e nos aventurarmos pelo parque natural das Calenques. Este parque é vizinho à cidade e engloba toda a costa entre a cidade de Marselha e de Cassis. Com vistas espetaculares para umas baías de mar mediterrâneo azul turquesa, é nas escarpas calcárias brancas e íngremes que está a absoluta espetacularidade deste território. A estrada é difícil de fazer, não pelo seu piso, mas pela quantidade de curvas que tem, mas a vista que se tem ao longo deste caminho vale bem a pena.
E é assim que chegamos ao nosso destino de almoço: o La Presqu'Île. Este restaurante fica numa praia privada em Cassis, tendo umas vistas absolutamente espetaculares sobre o mar. Mas, como todos os restaurantes, se se chegar um pouco depois da hora que eles estipulam, já não servem ... e foi o que nos aconteceu. No entanto, e graças à simpatia do porteiro do parque de estacionamento, lá nos deixaram entrar no complexo da Praia das Calenques de Cassis. E foi graças a esta simpatia que ficámos a conhecer o La Plage Bleue. Esta esplanada fica situada entre o restaurante que nos recusou e o mar, tendo assim melhor vista, e ainda por cima, permitindo uma indumentária menos chic, respirando-se assim um verdadeiro ambiente de praia. Foi aqui que comemos um tártaro de salmão, uma ceviche de salmão e um carpácio de polvo ... todos absolutamente divinais. Mais uma vez conseguimos escapar ilesos e muito bem servidos a mais um restaurante que não nos aceitou (desta feita, não porque não tivéssemos reserva, mas porque chegámos 15 minutos atrasados).
Ora se estamos em plena Côte d'Azur, o que fazemos durante esta tarde é ir à praia. Assim, depois do almoço divinal que tivemos (e enquanto fazemos a breve digestão do peixe maravilhoso que comemos), vamos até à muito exclusiva Hyères. É aqui que passamos uma tarde na praia (já não muito longa, pois apanhámos algum trânsito a lá chegar) mas mesmo assim deu para dar um mergulho e secar deitado ao sol.
Hyères tem uma península grande mesmo em frente e toda ela com praias de areia (uma raridade na Côte d'Azur) e foi uma tarde entre águas calmas e quentes e uma areia fina e um ambiente muito calmo e tranquilo. Fazer praia na península de Hyères é um luxo ... tal como se pode esperar.
Depois da praia, voltámos à estrada e fomos até à vizinha Aix en Provence para um jantar provençal. Em pleno centro da cidade há uma gema escondida, entre ruas estreitas há o Le Bistrot. Este pequeno restaurante tem a sua carta baseada nas especialidades provençais e todas elas verdadeiramente prodigiosas. A nossa escolha (e como gostámos, recomendamos) recaiu sobre uma tarte tatin de legumes, um maigret de pato com uma tapenade de cogumelos e um souflé de armagnac. Tudo delicioso!
Para encerrar o dia, voltámos à costa e fomos passear na marina de Saint Tropez, ver os espetaculares barcos, viver a agitação dos vários bares e passear nas ruas vizinhas, onde o luxo e a sofisticação não poupam recursos. Aqui sente-se dinheiro, poder e muito bom gosto. Foi assim que se encerrou a nossa viagem Gastro France, com uma nota do melhor que a França tem para oferecer: locais fanásticos e uma gastronomia excepcional!
Amanhã é dia de regressar a Lisboa ... não sem antes fazer uma última visita e mais duas paragens gastronómicas pelo caminho ... por isso voltámos ao nosso hotel em Marselha, fechámos as malas e fomos descansar porque amanhã o dia vai ser um longo dia na estrada!