GASTRO FRANCE | EM DIRETO - DIA 4



Nas road trips, o equilíbrio entre dias de maior quilometragem e dias de menos quilómetros percorridos é essencial para que se possam aproveitar todos os momentos da viagem. E assim, depois de dois dias em que nos mantivemos perto do nosso hotel (um no próprio do Vale do Loire, e outro fazendo as duas regiões vinícolas localizadas imediatamente a sul - Bordéus e Cognac), decidimos que estava na altura, neste quarto dia de mudar de cenários e, portanto, de deixar o nosso Château de La Plaudière e o Vel do Loire e mudar de poiso.

Assim neste quarto dia, refazemos as malas, tomamos o pequeno almoço, e fazemo-nos à estrada, com alguns quilómetros para andar até à nossa primeira paragem. Nestes dias de maior quilometragem é essencial que se tenha alguma visita, para além dos quilómetros para andar. No entanto há sempre a paisagem e as suas mudanças que fazem destes dias especiais.

Seja a paisagem de campos de cultivo, seja a paisagem de montanhas, a paisagem francesa é bela, bucólica, e relembra-nos as paisagens típicas dos quadros setecentistas das paisagens rurais. Todos os campos estão cultivados, todas as pequenas aldeias por onde passamos estão arranjadas e sente-se um cuidado extremo por todo o país, desde as regiões mais ricas e turísticas, às mais esquecidas e autênticas. Se nestes dias de muitos quilómetros há muito tempo passado dentro do carro, também há muita paisagem para ver e apreciar.



A nossa primeira paragem é para almoçar, e escolhemos a pequena vila normanda de Genêts para esta paragem gourmet. Aqui, quando nos dirigimos ao restaurante, percebemos que definitivamente temos de ter todas as refeições marcadas, pois mais uma vez, e apesar de chegarmos perto do 12.25h, somos recusados por não termos uma reserva. Assim e graças à simpatia dos habitantes da aldeia, acabamos num café de beira de estrada em plena entrada dos caminhos do Le Bec D'Andaine.

Sendo um dos principais locais de saída dos percursos pedestres que, durante a maré baixa, levam visitantes a pé, pelos baixios da baía fora até ao vizinho Mont de Saint-Michel, este café é bastante concorrido por amantes da natureza e do turismo saudável. Ora quando chegámos, não só encontrámos um grande parque de estacionamento cheio de carros, como encontrámos um autêntico café de beira de estrada, mas resignados pelas várias negativas que tivemos nos vários restaurantes do centro de Genêts, decidimos não rejeitar esta hipótese, ou arriscávamos a ficar mesmo sem almoçar.

Foi o melhor que fizemos, pois num ambiente descontraído conseguimos almoçar, numa esplanada ao ar livre, mas abrigada dos chuviscos que caíam, degustando uns mexilhões com molho de camenbert e batatas fritas (verdadeiramente típicos da costa norte de França), um fiambre normando grelhado com mostarda e salada e outras iguarias que tais. Tudo excepcionalmente bem confeccionado, e que comprova uma ideia que temos: é que a gastronomia em França é uma arte. Onde quer que estejamos, no local mais pequeno e distante, o acto de cozinhar e de comer são levados muito a sério, e a qualidade da cozinha servida é absolutamente acima de qualquer país do mundo onde tenhamos passado.



Depois da lição de gastronomia que tivemos no café de beira de estrada, rumamos então à nossa visita do dia: o icónico Mont de Saint-Michel. Ora se achávamos que tínhamos visto muita gente no Château de Chambord, nesta pequena ilha ficámos absolutamente assoberbados com a multidão que a invade. Primeiro existem mais de 15 parques de estacionamento onde deixamos o carro, bem longe da ilha, depois temos de os atravessar a pé, até um centro de autocarros, que nos levam num percurso de pouco mais de 10 minutos, até às portas desta pequena maravilha medieval, e depois é mergulhar numa cidade medieval que se estende em torno do mosteiro que coroa toda esta ilha, e rodeados de tantas pessoas, que mais parece uma entrada de um concerto de estádio. Sabíamos à partida que o Mont de Saint-Michel é um dos monumentos mais visitados de França, mas não tínhamos a noção deste exagero de pessoas.

Ora perante este cenário (e perante os aguaceiros que caem), decidimos ir direitos ao mosteiro no topo da ilha, e assim, subimos todo o monte de uma assentada. Claro está que este não é um exercício para principiantes, pois entre todo o esforço físico de subir tudo de uma só assentada, ainda piora a quantidade de gente que temos de enfrentar e que não nos deixa subir ao nosso ritmo e num percurso linear. Assim, quando chegamos à porta do mosteiro (que mais uma vez comprámos as entradas na internet, escapando assim a uma fila enorme que estava para as bilheteiras) estávamos absolutamente ofegantes. Mas depois de todo o esforço de subida até à porta do mosteiro, ainda foi necessário ter fôlego para a imensa escadaria que nos leva, desde a entrada dos bilhetes, diretamente para a plataforma mais alta do mosteiro, onde está a igreja, e por onde começa a visita.

Só aqui descansamos (até porque deixou de chuviscar), e só aqui começamos a apreciar verdadeiramente este monumento medieval. A igreja de arquitetura gótica, o mosteiro à roda do qual toda a cidade (ou seja, toda a ilha) se organizava, e todos os seus segredos e especificidades, vão sendo revelados durante a visita. Desde aspetos mais práticos como os mecanismos de subida de bens até ao mosteiro, passando pelo papel que esta ilha e este mosteiro teve na história de França, todas as informações vão surgindo, sala após sala, a um ritmo bem pensado e muito bem explicado. Esta é uma visita tão bem feita, quanto belo é o local onde estamos, e que, apesar do primeiro impacto da multidão de pessoas, depois esta acaba por se esbater e tudo se torna muito mais transitável e muito mais prazeiroso.


Ora como nós decidimos subir tudo de uma vez até ao mosteiro, foi à saída que nos dedicámos a visitar a cidade, as suas ruas, os seus cafés, e as suas ojas de sovenirs. Infelizmente tudo está transformado num "carnaval" para o turismo, mas a força da arquitetura de pedra das casas, a dimensão pituresca das ruas, a riqueza de outrora desta cidade, fazem deste um cenário verdadeiramente mágico, e que resiste a todos os ruídos visuais que se coloquem para o turismo massificado que hoje se pratica.

Não só vale a pena explorar a cidade, pois esta, mesmo na rua principal, tem uma magia muito particular, como a saída dos muros da cidade e a vista desta ilha no meio dos bancos de areia, é algo absolutamente digno de um filme. Sim sentimo-nos dentro de um cenário de uma película, em cujo local é tão mágico que se torna definidor da própria trama do filme ... só que desta vez, nós estamos lá e é a realidade.

Se a aproximação ao Mont de Saint-Michel é dominada pela surpresa de todo o aparato turístico e de massas montado à volta deste postal turístico francês, a saída jé é dominada pela maravilha da paisagem, desta ilha, das focas que vivem nas águas da baía (e que nadam despreocupadamente por baixo da ponte por onde nos aproximamos da ilha), e por toda aquela atmosfera especial e única, que só os locais incríveis conseguem ter. Sim amámos o Mont de Saint-Michel ... e é com esta sensação de satisfação plena que nos fazemos à estrada de novo.




Ainda antes de chegarmos ao nosso hotel de hoje (e dos próximos dias) paramos a caminho em Deauville, para jantar. Esta mítica cidade costeira da região francesa da Normandia tem uma das praias mais famosas desta região e foi exactamente aqui que decidimos parar para jantar e o restaurante que seleccionámos (e já tínhamos marcado, pois marcámos os restaurantes de toda a viagem no percurso entre o Mont de Saint Michel e Deauville, incluindo este jantar) foi o Le Bougnat.

Situado junto ao centro da cidade, onde podemos ver os grandes edifícios antigos da cidade, com as suas fachadas de traves de madeira à vista e alvenarias pintadas, este restaurante tem na sua decoração de objetos curiosos, antigos e tradicionais um dos seus grandes charmes. Mas a sua principal arma de atração é a cozinha regional e as suas maravilhosas iguarias. A nossa escolha recaiu sobre três Pot au Feux diferentes - o tradicional, o de bacalhau e o de vaca - e estavam absolutamente divinais. A rematar escolhemos também umas das sobremesas mais típicas de frança: o Baba au Rum e a Tarte Tatin.

Foi uma paragem gourmet absolutamente divinal e que nos deu a energia e a satisfação necessária para irmos até ao nosso destino final de hoje: Epernay e o seu hotel Confort Suites.

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